Emerging Trust

Deveriam passar somente uma noite ali, ou pouco mais de uma noite e metade de um dia. Thomas tinha pressa em seguir para o objetivo, mas a perna de Blake precisava de descanso. Todos, na verdade. Conseguiram armar duas tendas. Asgard desapareceu por entre as redondezas como sempre fazia. Blake estava em uma tenda junto a Joker que lhe ajudava ocasionalmente. Myra vigiava as redondezas.

Thomas adentrou na sua tenda e só encontrou Aemy ali. Deveria estar com Joker, mas naquele momento o rapaz estava cuidando da perna de Blake. Segurava o urso com força. Insegura. – De onde você vem, Aemy? – Indagou, enquanto se aconchegava no seu canto.

Era notável o desconforto da garota. Thomas compreendia o motivo. Decidiu ser direto e sincero quanto a isso. – Aemy, sei que você não gosta de mim. Pareço ser chato e irritante. E na verdade eu sou, pelo menos com meus soldados. – Concluiu, se sentando e olhando para a garota.

- Tecnicamente você não é um deles. Meu dever é te proteger. Até porque somos muito parecidos, mesmo que você não consiga ver isso. – Disse, tranquilamente. Não sabia se a garota ia compreender cem por cento do que ele dizia, mas tentava ser o mais claro possível. – Como eu não vou te fazer mal, não precisa ficar com medo. Podemos nos conhecer um pouco mais. Por exemplo, o que gostaria de saber de mim? – Indagou.

Aemy abaixou um pouco o rosto quando Thomas demonstrou saber perfeitamente como ela pensava, envergonhada por ter sido tão óbvia. Quando ele diz que o dever dele é protege-la e que eles eram parecidos, porém, ela levanta o olhar um pouco confusa e curiosa. Parecidos onde?

- Hm... Tá... Então... Por que você é o capitão...? Você é só uma criança como eu...

A pergunta de Aemy era óbvia. Quer dizer, do ponto de vista de uma criança como ela sim. Contudo, a maioria do esquadrão de Thomas eram jovem. A maioria dos mais velhos já tinham perecido em batalha. – Eu fui treinado desde cedo pra isso. Mas basicamente sou o Capitão por causa da capacidade de liderança. – Era bem verdade que cada membro do grupo, com exceção de Darwishi tinha um passado bem complexo, por vezes, criminoso. Se perguntava como a garota se sentiria sabendo que estava rodeada de meio demônios e assassinos. – Eles acreditam no que eu falo. Acreditam que podemos conseguir completar nossos objetivos. – Disse-lhe

- Porque eu era bom. Nasci com talento pra esse tipo de coisa. – Não se lembrava, exatamente, do seu primeiro dia de treino. Lembra de estar lá, de mesmo sem saber muito sobre o mundo, vindo aprender posteriormente através dos estudos, ter uma vontade inabalável por uma mudança. – Mas e você, como chegou por aqui? Você é só uma criança e sobreviveu tão bem quanto nós. – Thomas já imaginava o motivo, contudo, estava mais interessado na história do trajeto da pequena.

Thomas escutava atentamente as palavras de Aemy. Como suspeitava, Biki era o Urso, mas a voz não era dele e sim de Castiel, que estava dentro da garota. Contudo, para a pequena, era melhor acreditar naquela versão da história. – Eu acredito em você. Realmente acredito que Biki fala com você. – Disse, convincente. Contudo, o que lhe pegou de surpresa foi o comentário seguinte de Aemy. – Você já tinha nos visto antes? – E aquilo soava interessante. Até porque Aemy era um mistério, aparecendo simplesmente do nada. Sabia que ela era uma profeta, mas não sabia do seu passado.

O passado de Aemy ainda era bastante misterioso. Thomas não conseguiu interpretar muito bem o que ela quis dizer com o espelho. Um artefato mágico, talvez? Difícil saber. O assunto, contudo, parecia não a deixar muito confortável, então optou por não continuar nele.

O tópico mudou, mas veio por inciativa de Aemy. Thomas parou diante da pergunta, ficando pensativo. Aquilo era algo que até hoje Thomas também se perguntava, apesar de ter uma resposta. – Não. Mas dificilmente sabemos, por isso não corremos o risco. – Disse, de forma simples e direta.

- Existe uma história por trás disso. Escute. – Em uma resumida elucidação, explicou que antigamente alguns demônios se viraram contra seu criador e ficaram ao lado dos humanos, vindo a se relacionar com eles e ter filhos, que seriam chamados de meio demônios. Era por isso que Thomas acreditava que nem todos eram ruins, mas era difícil saber quais. – Joker é um meio-demônio... Vê, então? – Indagou, se perguntando se Aemy tinha compreendido o que dissera.

A conversa com a pequena até que tomou rumos interessantes. Aemy começava a questionar as atitudes dos Guardiões, mas não só deles e sim da raça humana. Eram conceitos que sempre estariam em evolução, tanto para ela quanto para Thomas. Dessa forma, era natural que tivesse dúvidas e Thomas se sentia ligeiramente culpado por isso, então decidiu responder de forma mais clara. – Não. – Disse, de forma categoria e então, abriu um leve sorriso. Fato raro. Thomas dificilmente sorria.

- Lutamos para salvar nossa espécie. Para derrotar Lúcifer. Os demônios nunca irão sumir por completo, mas irão ficar enfraquecidos por muitos e muitos anos, sem poder nos causar nenhum mal. – A verdade era mais complexa. O fato era que lutávamos pela capacidade atribuir mortalidade a esses demônios, para poderem retornar para o buraco de onde nunca deveriam ter saído. Mas isso apenas iria deixar Aemy mais confusa. – Joker é tão humano quanto nós. Só algo muito ruim poderia fazê-lo se transformar novamente. E com você do lado dele, dificilmente isso acontecerá, não é? – Indagou a pequena, atribuindo-lhe um pequeno desafio do qual ela talvez fosse gostar.